segunda-feira, 3 de junho de 2013

O simples ato de sacar a rolha de uma garrafa de champanhe evoca um mundo onde a elegância, a sofisticação e o estilo reinam.

Luis XIV é lembrado como o monarca mais poderoso da história da França, o rei que transformou o país em uma nação moderna. A parceria desse monarca obcecado por estilo e seu ministro das finanças Colbert, um homem de negócios inflexível, foi um casamento perfeito. Juntos forjaram a imagem nacional da França e criaram a aliança ideal entre a arte e o comércio. Desenvolveram a primeira economia movida pela moda e pelo bom gosto. O rei criou novos padrões de luxo que passaram a ser aceitos como genuinamente franceses e Colbert cuidou para que todos os produtos que pudessem estar relacionados a essa ideia fossem comercializados tanto quanto possível.
A gastronomia e a alta-costura tornaram-se vitais tanto para a fama do país quanto para sua balança comercial. A essência do estilo. A culinária francesa passou a ser descrita com termos que nunca tinham sido usados: "saboroso", "sutil", "refinado", "delicado", "civilizado". Pela primeira vez, a comida tornou-se uma atração turística. Os chefs franceses foram os primeiros a reduzir ou eliminar por completo os temperos do oriente - noz moscada, canela, gengibre e outros - cujos sabores dominaram a culinária do período medieval em toda a Europa. Eles substituíram os temperos estrangeiros por ervas nativas - salsa, tomilho, cebolinha e chalota. O gosto medieval por focas, botos e baleias também desapareceu surgindo a preferência pelos peixes como o linguado, rodovalho e a truta. A aristocracia foi encorajada a cultivar suas próprias hortas. Todas as  receitas criadas concentravam em ressaltar "o sabor autêntico de cada ingrediente" e rejeitavam o uso de condimentos exteriores que "disfarçassem o sabor principal".
A reinvenção da França não aconteceu porque os franceses se tornaram inerentemente mais elegantes ou dotados do paladar mais refinado do mundo. Uma coisa é certa; a transformação dos franceses em gourmets e rainhas da moda foi muito mais que uma tendência nacional; foi na realidade, um assunto de estado.

do livro A essência do estilo de Joan DeJean.

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