segunda-feira, 10 de junho de 2013

Jogos amorosos, folha a folha, beijo a beijo.

"Apetite e sexo são os grandes motores da história, preservam e propagam a espécie, provocando guerras e canções, influenciam religiões, lei e arte. Toda a criação é um processo ininterrupto de digestão e fertilidade; tudo se reduz a organismos devorando uns aos outros, reproduzindo-se, morrendo, fertilizando a terra e renascendo transformados. Sangue, sêmen, suor, cinzas, lágrimas e a incurável imaginação poética da humanidade buscando significado..."

"Que aconteceu com a simples salada de folhas verdes de antigamente? Parece ter desaparecido, derrotada pelos alardes da nouvelle cuisine. Foi destronada por combinações esotéricas que incluem ingredientes inusitados, como manga, polvo ou macarrões chineses, temperadas com molho teryaki e queijo roquefort."

"Hors d'Oeuvres - primeiras cócegas e mordidelas. À mesa, representam aquilo que os beijos são para os apaixonados, uma mostra delicada do que virá mais tarde, quando a coisa ficar mais íntima. São servidos para acompanhar um coquetel ou uma taça de vinho branco antes de se passar à mesa e, em alguns casos, quando a ansiedade de amar é tão grande que não há tempo a perder, podem substituir a comida."

"As mãos expressam nossas intenções: acariciam, confortam, castigam, trabalham. A mão boa para fazer um molho é como a mão boa para fazer uma massagem, atributo valioso e escasso. Os molhos sensuais, esses que o amante guarda em segredo como se fossem um tesouro, junto com os gestos mais íntimos e atrevidos, requerem imaginação."

Isabel Allende

segunda-feira, 3 de junho de 2013

O simples ato de sacar a rolha de uma garrafa de champanhe evoca um mundo onde a elegância, a sofisticação e o estilo reinam.

Luis XIV é lembrado como o monarca mais poderoso da história da França, o rei que transformou o país em uma nação moderna. A parceria desse monarca obcecado por estilo e seu ministro das finanças Colbert, um homem de negócios inflexível, foi um casamento perfeito. Juntos forjaram a imagem nacional da França e criaram a aliança ideal entre a arte e o comércio. Desenvolveram a primeira economia movida pela moda e pelo bom gosto. O rei criou novos padrões de luxo que passaram a ser aceitos como genuinamente franceses e Colbert cuidou para que todos os produtos que pudessem estar relacionados a essa ideia fossem comercializados tanto quanto possível.
A gastronomia e a alta-costura tornaram-se vitais tanto para a fama do país quanto para sua balança comercial. A essência do estilo. A culinária francesa passou a ser descrita com termos que nunca tinham sido usados: "saboroso", "sutil", "refinado", "delicado", "civilizado". Pela primeira vez, a comida tornou-se uma atração turística. Os chefs franceses foram os primeiros a reduzir ou eliminar por completo os temperos do oriente - noz moscada, canela, gengibre e outros - cujos sabores dominaram a culinária do período medieval em toda a Europa. Eles substituíram os temperos estrangeiros por ervas nativas - salsa, tomilho, cebolinha e chalota. O gosto medieval por focas, botos e baleias também desapareceu surgindo a preferência pelos peixes como o linguado, rodovalho e a truta. A aristocracia foi encorajada a cultivar suas próprias hortas. Todas as  receitas criadas concentravam em ressaltar "o sabor autêntico de cada ingrediente" e rejeitavam o uso de condimentos exteriores que "disfarçassem o sabor principal".
A reinvenção da França não aconteceu porque os franceses se tornaram inerentemente mais elegantes ou dotados do paladar mais refinado do mundo. Uma coisa é certa; a transformação dos franceses em gourmets e rainhas da moda foi muito mais que uma tendência nacional; foi na realidade, um assunto de estado.

do livro A essência do estilo de Joan DeJean.